Ontem escrevi aqui em como já passaram dois meses, ou melhor só ainda passaram dois meses.
Eu não tenho a certeza se o tempo cura, se desvanece a dor e a lembrança, mas tento acreditar que pelo menos cria algum distanciamento e torna a convivência com a situação mais aceitável. Até que um dia conseguimos olhar para a situação e não ficar com o coração apertado.
A verdade é que a vida segue o seu curso.
Os dias passam impiedosos e há coisas a fazer, decisões a tomar.
É um luto.
Nem sempre me recordo do teu rosto; às vezes tenho de fazer mesmo um grande esforço para conseguir recordar os teus traços, mas depois de repente basta uma conversa ou ver algo e de bem cá do fundo salta uma memória ou recordação.
Assim é o processo, tenho ouvido dizer.
Por muito rídiculo e masoquista que possa parecer a verdade é quando se ama está-se sempre à espera de uma reviravolta miraculosa, em que a pessoa afinal não tenha sido tão mau carácter, nem tenha tido tanta falta de escrúpulos e que no fundo até nos ame, apesar de nos ter rejeitado.
Isto é o que faz o Amor; não posso dizer que me cegue, porque com os olhos da razão vejo tudo preto no branco, mas às vezes deixa-me fantasiar, e estas fantasias só prolongam o meu sofrimento.
Nada posso fazer quanto às minhas lembranças, porque são elas que me magoam, as imagens que criei de ti e os sentimentos que desenvolvi. Mas vou deixar de fazer um esforço para me lembrar do teu rosto, e vou deixar de ser refém da tua presença.
Vivemos na mesma localidade e eu ultimamente sinto-me refém no sentido em que evito frequentar certos sítios com receio de te encontrar - No more!
Aquela é a minha casa, a terra onde nasci e cresci. Não me vou andar a esconder pelos cantos com medo da minha sombra porque eu não devo nada a ninguém muito menos a ti.
Se nos encontrarmos e me falares, oiço-te, se fingires que não me conheces farei o mesmo.
Malesh....
A memória é traiçoeira e nem sempre joga a nosso favor.
Acho que deve de haver assim uma memória diabinho e outra anjinho como nos cartoons quando aparece a consciência boa e a perversa.
Existem aquelas recordações que são boas, outras que não são boas mas que nos ajudam a esquecer através da raiva e depois todas as outras que estão gravadas cá dentro e que fazem com que esquecer seja impossível, já que nem sequer consigo entender.
E a minha veio de uma conversa super banal com um colega de trabalho que nem faz a mais pálida ideia da dor que aquela conversa tão inocente acabou por despoletar.
Falávamos de sabores de café porque tanto ele como eu temos uma máquina da Nespresso, e ao dizer-me que tinham saído novos aromas café com bolacha e café com castanhas, lembrei-me de como me tinhas dado a experimentar café com cardamomo (especiaria).
E hoje ao passear na Fnac dei comigo a ver os pacotes das X-Files e os livros de culinária, bem como o livro que a tua filha te pediu para o Natal.
Ás vezes penso como é estranho que não nos encontremos na rua, afinal vivemos na mesma terra (que não é assim tão grande).
Confesso que tenho passado os últimos tempos a olhar por cima do ombro com receio de te encontrar. Deixei de frequentar o café onde íamos os dois; no entanto agora acho que gostava de te encontrar.
É que eu tenho esta mania de enfrentar tudo de frente.
Gostava de te olhar nos olhos.
Gostava de perceber.
Gostava de ver se irias fingir que não me conheces, e gostava saber o que iria sentir ao ver-te.
Infelizmente para mim não te tenho raiva, só muita mágoa.
Adoro esta música...
No outro dia li a seguinte frase "Até um grande guerreiro necessita do seu descanso"...
E tu foste na realidade uma grande guerreira.
Durante 94 anos foste muitas coisas, criança, menina, mulher, mãe.
Viveste em África, ainda me recordo das histórias que contavas das cobras que apareciam no quintal.
Criaste dois filhos e três netos.
Viste os teus filhos irem para o Ultramar e regressarem sãos e salvos.
Ficas-te viúva e tiveste o maior desgosto da tua vida quando os teus filhos se zangaram e o mais velho cortou relações com o irmão e contigo. Isso foi há quase 20 anos. Viveste estes últimos 20 anos da tua vida com a mágoa da ausência do teu filho.
Vinte anos é muito tempo. Tempo de mais. Orgulho de mais...
Pois hoje (e ontem) ele esteve presente.
Tu estavas disposta a perdoá-lo bastava que te tivesse ído visitar. Talvez não tenha tido coragem de te enfrentar. De enfrentar a mãe e a mulher que sempre foste. Justa e muito directa. Que nunca deixou nada por mãos alheias, nem nunca mandou recados.
É triste que aconteçam estas rupturas, e eu sempre sofri por ti avó; porque acho que uma mãe nunca deve conseguir conviver bem com uma ausência tão provocadoramente presente. Porque ele estava ali ao lado, porque passava na rua e não te dirigia palavra.
Nada devia ser maior que o Amor, mas muitas vezes o orgulho e a ganância são.
Espero que estejas em paz.
Sofreste muito e por fim o teu corpo cansado deixou de resistir.
Descansa agora avó. Mereces o teu eterno descanso.
Amar-te-ei sempre!
Depois do sucesso de "O Diário da Tua Ausência", uma carta envolvente que ajuda a descobrir novos caminhos para o verdadeiro amor. «Quando amamos alguém, não perdemos só a cabeça, perdemos também o nosso coração. Ele salta para fora do peito e depois, quando volta, já não é o mesmo, é outro, com cicatrizes novas. Às vezes volta maior, se o amor foi feliz, outras, regressa feito numa bola de trapos, é preciso reconstruí-lo com paciência, dedicação e muito amor-próprio. E outras vezes não volta. Fica do outro lado da vida, na vida de quem não quis ficar ao nosso lado.»
Confesso que esta não é a minha autora favorita, mas o título atrai-me, é actual para mim...
Entretanto no sábado vi uma das sessões de autógrafos num dos programas de Jet set da Sic, e uma das entrevistadas dizia que esquecer um Amor não é fácil, mas que começa por apagarmos o número de telefone do nosso telemóvel.
Então estou no bom caminho.
Já não tenho números nem mensagens nem fotos.
Mas ainda não posso dizer que Hoje é o Dia em que te esqueci; talvez seja Amanhã.
Estamos em plena contagem decrescente.
Contagem decrescente para o Natal - falta um mês precisamente!
Contagem decrescente para a morte prematura desta empresa onde trabalho há dois anos...
Contagem decrescente para o meu último dia de trabalho aqui que será no dia 21 de Dezembro.
Contagem decrescente para o final de 2009.
Contagem decrescente para esta fase da minha vida.
Tantas alterações ao mesmo tempo só podem querer indicar isso mesmo.
Já aqui disse várias vezes (repetitiva) que a maior parte das vezes me sentia a sobreviver e não a Viver, e aqui falei das minha inúmeras tentativas de mudar e passar a ser mais como quero ser.
Tentativas talvez a 20%, porque na realidade nada mudou, eu não mudei. Acomodei-me. Porque dava muito trabalho e era muito doloroso, arrumar tudo o que estava desarrumado dentro de mim, de raiz.
Porque esse tem sido o grande problema que não me tem deixado crescer; de tanto "atamancar", nunca consegui construir nada de sólido. Sempre fui reconstruíndo pedaços quebrados, acrescentando aqui e ali, de forma que o resultado não foi muito sólido.
Também eu não construí a minha casa sobre a rocha (relembrando a minha última aula de catequese). Construí sobre as areias movediças da minha pouca auto-estima e da minha falta de amor próprio.
Veio uma rabanada de vento e levou tudo, e eu lá voltei a construir, cada vez tentando reforçar um pouco mais os alicerces, mas de forma errada, agarrando a minha construção nos outros e não tornando-me na rocha.
Nestes últimos dois anos e meio caí e levantei-me várias vezes, mas a mudança profunda que comecei a perceber ser necessária não a consegui fazer.
Talvez por cobardia, porque como doem os joelhos quando crescemos fisicamente, crescer interiormente faz doer a alma (palavras de uma sábia grande amiga).
E a verdade é que ninguém gosta de sofrer, então acho que me fui acomodando e evitando tomar esta ou aquela decisão, enfrentar este ou aquele problema.
CHEGA!!!
De uma certa forma agradeço que toda a estrutura ao meu redor tenha colapsado. Foi como se um terramoto tivesse de repente deitado abaixo tudo o que construí. Ficaram os escombros.
A limpeza é dolorosa. Faz doer a alma. Mas o que não nos mata, torna-nos mais fortes.
Tenho muito a agradecer. Tenho a minha família, tenho amigos, tenho saúde, dois braços duas pernas e inteligência para me por a caminho.
Já só faltam limpar os últimos obstáculos que dependem das tais contagens decrescentes, e depois a partir daí depende totalmente de mim.
O último mês foi um mês de intenso crescimento e muita dôr, mas neste momento e embora a dôr persista sinto que o meu coração começa a encontrar a paz que já não conhecia, e consigo enfrentar-me no espelho e começar a gostar do que ele reflecte mesmo tendo a noção perfeita de tudo aquilo que ainda preciso mudar.
Uma folha de papel vazio, que eu vou começar a preencher.
Muitas vezes são mais importantes aquelas preces que não nos são atendidas que aquelas que são.
Porque muitas vezes queremos coisas que no fundo só nos vão fazer mal ou tornar muito infelizes.
E não obter esses desejos é o melhor que nos poderia acontecer.
E sempre que algo do gênero me acontece, lembro-me desta música.
Porque nada nesta vida acontece por acaso...
De vez em quando sou assolada por pensamentos sobre isto ou aquilo...
Assuntos despoletados por este ou outro acontecimento, e que me fazem pensar e interrogar-me.
Se há algo que eu considero perfeitamente injusto em toda esta temática (já algumas vezes aqui falada por mim) do divórcio é que as crianças envolvidas tenham de sofrer.
Será possível que haja um divórcio dos pais sem que os filhos sintam que todo o seu Mundo ficou de pernas para o ar, sem que ninguém lhes perguntasse qual a sua opinião?!
Eu quero acreditar que sim; talvez pelo facto de estar a passar por essa situação.
Quero acreditar que o meu filho é uma criança feliz.
Porque também acredito que mais violento que um divórcio, será ser criado no meio de uma família onde não existe amor. Onde por vezes o amor deu lugar ao rancor, à desconfiança e à raiva.
Acredito que se os pais agirem no melhor interesse da criança, sem criarem dramas, sem fazerem públicos os seus ressentimentos, talvez a(as) criança(s) consigam passar um pouco mais à margem da situação. É claro que nada será como dantes. Passam a haver duas casas, dois quartos, dois de tudo...À prmeira vista poderá pensar-se que é uma situação de ganho, tudo a duplicar. Será se não forem feitas pressões; se a criança não sentir que tem de escolher; se o optar estar com um não signifique subtrair ao estar com o outro.
E aqui depende de nós, pais.
Por muito que o meu coração fique apertadinho quando o meu piolho vai passar uma semana ao pai, mostro-lhe sempre entusiasmo. Porque ele adora o pai, e porque o pai é muito importante na vida dele.
Houve umas duas ou três vezes em que ele chorou que não queria ír ou para o ír buscar, e aí fiquei em pânico. Pânico que ele não quizesse estar com o pai; pânico que me pudessem culpar disso.
Prefiro mil vezes que ele não queira falar comigo ao telefone quando lá está, do que desate a chorar a dizer que tem saudades minhas. É sinal de que está bem e feliz.
Prometi a mim mesma que nunca iria interferir no relacionamento dele com o pai, a não ser no sentido de facilitar. Não quero em nenhum sentido ser responsabilizada pela forma como eles venham a desenvolver a relação pai-filho.
O que me faz pensar noutra questão: sim senhora, sou muito "altruísta" no que respeita ao meu filho passar tempo com o pai, facilito todos os momentos que posso, não interfiro; mas, até que ponto iria o meu altruísmo se o meu filho me dissesse: mãe quero ír viver com o pai.?!
Conseguiria pensar só nele e no que o faria mais feliz? Sem me sentir mortificada porque ele não era mais feliz comigo?
Só esta consideração já é perfeitamente injusta, porque as crianças têm o direito de poder escolher sem pressões, mas acredito que essa escolha seja muito dificil.
Como dividir o que é uno? E mesmo quando não amam de forma igual ou não sentem ser amados de forma igual, escolher um amor em detrimento do outro é violento.
Mas eu penso que não têm de escolher. Têm que poder decidir com quem querem estar e quando. Sem imposições de tribunais ou de parte a parte. Pode não ser tão práctico, mas é concerteza mais saudável.
"Os braços sentem o que os olhos Vêm"...
Bem que eu desconfiava que existia uma música com o nome do meu actual estado de espírito.
Outras visões do mesmo Mundo
As Palavras que nunca te direi
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As minhas músicas
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